Para terminar o capítulo que acabou por ser dedicado a grandes nomes femininos do design (e tanto mais haveria a dizer sobre as duas últimas...) queria só explicar porque é que pareço, às vezes, um pouco zangada demais com certos preconceitos e isso de alguma maneira passar para as minhas palavras. Para o explicar vou ter de fazer mais uma incursão nostálgica e terapêutica ao passado, mas já devem estar habituados e ainda ninguém se queixou :-)
Então... quiseram as circunstâncias que embora tivesse escolhido bem cedo a minha profissão, os meus estudos secundários fossem em jornalismo-turismo. Com 15 anos não quis mudar de escola e abandonar os meus amigos para estudar na António Arroio, o único sítio em Lisboa onde na época (paleolítico superior, mais ou menos...) se aprendiam as diversas artes a nível secundário. Embora mais tarde me tivesse penalizado muito por isso, agora vejo que estudar letras e jornalismo não foi totalmente descabido para o meu percurso futuro e as recordações do que vivi com os melhores amigos do mundo também fazem valer a pena esse desencontro temporário com a minha essência artística. Mas quando finalmente resolvi acertar as agulhas e fazer o que realmente gostava, descobri o IADE e lá fui eu estudar Design.
Mas se ainda hoje há pessoas que não sabem muito bem o que é isto, na década de 80... podem imaginar? Os meus colegas estudavam agora Direito, História, Sociologia e quando nos encontravamos no autocarro (sim, sim... naquela altura não íamos de carro para a faculdade) eu ia sempre carregada com pastas gigantes, a mala de pintura, régua T, o esquadro e eles com o seu único livro debaixo do braço perguntavam-me irónicamente: então como é que vai o teu cursinho? What?!! O CURSINHO???? Será que não viam as minhas olheiras por causa das directas para terminar os projectos? Será que eu não estudava tanto como eles nos seus "cursões"???
Foi aí que eu percebi que teria de lidar sempre com este preconceito, esta chancela de futilidade que teima em colar-se a esta actividade, sobretudo ao Design de Interiores. O facto das "colegas decoradoras" serem filmadas na televisão com saltos de 12cm em plenas obras de demolição também não ajuda nada a dar seriedade à profissão, mas vou fazendo o que posso para credibilizar o meu trabalho.
Quando o preconceito vem da porta ao lado, da classe dos arquitectos custa muito mais a digerir porque eles teriam obrigação de saber que a função de um designer pode ser compativel com a sua e respeitá-la. Mas... e juro que já me aconteceu ter um arquitecto (que não me conhecia de lado nenhum) a dizer a um cliente que me contactou para um projecto de interiores, após ele ter dado por terminada a sua parte do trabalho: Veja lá o que é que vai fazer... essa gente... (lembram-se da história das almofadas?) Felizmente, tiveram a confiança suficiente em mim para me contar isto e até para me contratar.
Mas resumindo: sabem porque é que tudo isto me custa mesmo? É porque o país precisa muito de nós e... não sabe!
Podes crer!! Até a mim, que não sou da área nem sequer de perto, me dá nervos!!
ResponderEliminarSofia não é só o teu curso amiga eu sou licenciada em Arquitectura de Design de Moda pela faculdade de Arquitectura e quando andava a tirar o curso as pessoas diziam" como é que vai o teu curso de costureira ou de estilista ou lá o quê?
ResponderEliminarLiteralmente tanto o Designer de moda quanto o estilista são denominados fashion designers, não havendo portanto nenhuma diferença entre eles. Mas de fato essa diferença existe, no estudo do design leva-se em consideração a parte industrial e comercial, como aquele produto será produzido em escala industrial, em grandes quantidades e principalmente quais as reais funções para esse produto, qual será a função prática que ele terá, qual a função estética que esse produto representará para o consumidor e qual a função simbólica desse produto na vida do usúario e ainda todo o marketing envolvente. Em Design de Moda estudamos o processo criativo mas também o processo industrial/comercial/marketing.
Assim o Designer é um profissional que se preocupa com todas as questões objetivas e específicas dos produtos na hora da criação.
Por sua vez o estilista está mais relacionado com o campo da arte, visto como um artista livre para criar peças únicas, livre na conceituação de um objeto deixando de lado essas questões objetivas dos produtos.
E na minha profissão enquanto ilustradora é ainda pior. Estás cansada? Não sei porquê passas o dia sentada a desenhar bonecos!
Desculpa o testamento mas não resisti em desabafar
Bjinhos;)
0brigada pelo teu testemunho Maria! Desabafa sempre que quiseres, porque como diz a Catarina aí em cima... até dá nervos!
ResponderEliminarBeijinhos para as duas