Era para ser só uma vez por semana, mas calhou estar inspirada para continuar a falar de Design por isso... como prometido ontem... ladies & gentlemen: (rufo de tambor)... Charlotte Perriand!!!
Tendo estudado na Ecole de L'Union Centrale de Arts Decoratifs bateu, certo dia, à porta do famoso
Le Corbusier para apresentar o seu portfolio e pedir trabalho. Conta-se que este rudemente a expulsou dizendo que aquilo era um gabinete de arquitectura e não precisavam de ninguém que fizesse almofadas!!! Rapidamente se arrependeu da sua atitude quando viu as linhas
do bar que Charlotte desenhou para apresentar no Salon d´Automne em 1927 e contratou-a então.
Hoje podemos não achar muita graça a este bar, mas nos anos 20 era uma lufada de ar fresco. A maior parte dos bares eram bastante mais sisudos...
Havia a vontade de experimentar formas e materiais que as novas máquinas e a revolução industrial tinham permitido e... não menos importante: criar soluções para pequenos espaços. O crescimento demográfico nas grandes cidades assim o exigia. E destes pequenos contributos se foram construindo as bases para o estilo muito mais
clean e arejado que hoje em dia adoptamos.
Continuando a história da jovem Charlotte, já no gabinete do arquitecto desenhou
peças que se tornaram icónicas, que continuamos a encontrar integradas em ambientes contemporâneos mas que, tendo saído dos estiradores do atelier de Le Corbusier lhe são frequentemente atribuídas. A
chaise-longue LC4 é das mais conhecidas e o seu editor actual, a marca
Cassina, atribui uma autoria partilhada a esta peça.
Após a colaboração com Le Corbusier, o seu trabalho de criação continuou, muito influenciada pelo oriente, tendo vivido no Japão e conhecido profundamente a sua cultura.
As estantes que desenhou, com linhas revolucionárias para a época, integram-se hoje perfeitamente em qualquer apartamento contemporâneo, não tendo sofrido nada com o passar dos anos. Estas estantes, concebidas nos
Ateliers Jean Prouvé fazem com que mais uma vez a sua autoria apareça partilhada.
A sua vida prova também como as mulheres tiveram dificuldade em fazer valer o seu trabalho de forma independente e o longo percurso que foi percorrido em termos de emancipação feminina. Falamos de uma época em que uma mulher sózinha teria dificuldades em assinar um contrato de arrendamento para um atelier e isto só para começar...
Por isso aqui fica a minha homenagem muito merecida a uma criadora que vinda das artes decorativas se conseguiu afirmar contra ventos e marés no preconceituoso mundo masculino e da arquitectura do século XX (eu disse XX?)