terça-feira, 25 de janeiro de 2011

RECUPERAÇÃO DE EDIFÍCIOS 3 - MOSAICO HIDRÁULICO

Esta sou eu, com dois anos, sentada na minha velha cadeirinha amarela, no terraço da querida avó em Algés. Tão entretida e concentrada a enrolar uma fita métrica (sinais do destino :-) que nem reparei que tinha ficado sem um sapato.
Desta casa ( perto da qual viria a morar alguns anos mais tarde) onde passei tanto tempo da minha infância, é a cozinha e o terraço que me trazem mais lembranças. Era a vista do Tejo a entrar no mar, os netos todos a jogar às cartas com o avô em volta da mesa redonda, a telefonia sintonizada para os Parodiantes de Lisboa, o cheiro a torradas feitas no fogão e do café feito na cafeteira e de muito mais coisas boas, todas aqui, neste espaço solarengo. O chão da cozinha (que se vislumbra por trás) era em mosaico hidraulico, muito parecido com este, mas em tons de vermelho.
E deve ser por causa destas recordações que eu gosto tanto deste tipo de pavimento. Cada um das peças é feita à mão, juntando pó de pedra, cimento, areia e tinta em pó num molde com desenhos pré-definidos criando assim o mosaico que é posteriormente seco ao ar livre.


O problema destes mosaicos é o seu desgaste, dado que não possuem nenhum vidrado protector. Quando não foram tratados com cuidado, apresentam falhas, pouco brilho e um aspecto demasiado degradado que não é compatível com a exigência de algumas remodelações actuais. Daí até substituir sempre e sem critério, só porque o vizinho já mudou, vai um passo de gigante. Há que avaliar caso a caso, ter em conta se é possível fazer algum tipo de recuperação em obra ou até mandar reproduzir as peças mais desgastadas para fazer uma substituição parcial. Ver aqui sugestões de aplicação e manutenção. E ainda esta oficina em Estremoz.



No caso da recuperação não ser possível, se houver consciência do valor patrimonial deste tipo de mosaicos, podem ser retirados com cuidado para não partir e depois doados ou vendidos a um armazem de demolições. Assim poderão vir, ainda, um dia, a ser reutilizados.
Cada pessoa pode e deve escolher para sua casa o que gosta e aquilo com que se identifica. Não digo "partir: jamais", mas gostava de acreditar que quando se opta pela substituição, se faz de uma forma consciente e por todos os factores, menos pelo da ignorância do real valor destas peças.


Recolha de padrões portugueses publicados em livro aqui

6 comentários:

  1. Este tipo de pavimento é fabuloso. Gosto sobretudo dos que possuem motivos geométricos, que dão a ilusão de vários cubos em perspectiva.
    Mais uma vez os meus parabéns pela iniciativa de dedicar esta semana à recuperação de edifícios.

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  2. Devo dizer, Sofia, que concordo inteiramente contigo! Há poucos pavimentos que se comparem ao mosaico hidráulico. Na remodelação que estamos a fazer agora na nossa casa nova vamos manter obviamente o lindo pavimento da cozinha (http://awonderfulyear.blogspot.com/2011_01_02_archive.html) e as lindas caixilharias originais em ferro que o acompanham. Ah! E já estive há uns anos na fábrica do Sr. Zagalo...muito bonita! Gostei muito do teu post!

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  3. Obrigada aos dois. Patrícia, o teu link não ficou activo, mas já o coloquei ali ao lado, na lista de blogs, na categoria DIA A DIA. E vou lá agora ver o teu chão.

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  4. Este pavimento é intemporal e faz parte do património artístico. Convenci um cliente a colocar na sua casa (arquitectura tipo Raul Lino) que foi reconstruída e cujo soalho tinha de permanecer, a conjugação destes dois materiais não podia ter resultado melhor!

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  5. Pois é....lindo e pouco usado mesmo. Eu ainda quero colocar em minha casa quando termina-la, em espaço de destaque.
    Abraços

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  6. Olá, Sofia.
    Lindo teu post, pela valorização do material que também gosto e também pelas tuas lembranças preciosas.
    No link abaixo(blog Amém da Rosana Sperotto) quero te mostrar a produção artesanal feita aqui no sul do Brasil, onde o pavimento é chamado de ladrilho hidráulico.
    Sílvia

    http://rosanasperotto-rosanasperotto.blogspot.com/2011/01/licao-dos-ladrilhos.html

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