terça-feira, 25 de janeiro de 2011

RECUPERAÇÃO DE EDIFÍCIOS 2- CAIXILHARIA EM FERRO


Há dias vi, num conhecido programa de televisão, a substituição de caixilharia de ferro antiga por uma janela de grandes vidraças em alumínio lacado branco e vidro fosco. Vamos por partes... por onde hei-de começar a explicar o que penso sobre isto, sem ser mal interpretada?
A nova caixilharia cumpre melhor as funções de isolamento térmico e acústico? Sim, pode fazê-lo, se tiver vidros duplos, um sistema de abertura em oscilo-batente e fôr aplicada por uma empresa que garanta uma boa colocação. O simples facto de ser em alumínio não garante nada e toda a gente já se deparou com janelas de correr, de vidros simples, mal isoladas que não acrescentaram nada em termos de isolamento quando comparadas com as anteriores em ferro ou madeira. Vamos ser sinceros, o principal motivo pelo qual se substitui este tipo de janelas, antes de qualquer tentativa de as recuperar e de melhorar o seu isolamento, é um motivo puramente estético, ou seja, para ficar mais "bonito e moderno". A pergunta que eu faço é: Fica? De certeza? Quando se fala em defesa de património, pensamos sempre em igrejas e monumentos, mas há um imenso património que faz parte da história da arquitectura de uma cidade que está a ser sistemáticamente agredido por falta de conhecimentos de todos os intervenientes no processo, sendo que muitas vezes, os únicos interlocutores são uma empresa a querer ganhar dinheiro e um cliente mal informado. Cabe a quem tem alguma formação nestas áreas, cabe às revistas de especialidade e cabe à televisão (e de que maneira) informar as pessoas e oferecer possibilidades de escolha. Depois pode optar-se por retirar a janela, se naquele caso específico não houver mesmo alternativa, mas não pode nunca ser uma decisaão irreflectida, do tipo "está velho... muda-se". Há outras possibilidades. Não temos todos de fazer a mesma coisa, da mesma maneira sem pensar duas vezes sobre o que está em causa.
Terei muita pena do dia em que não reste uma única janela destas em Lisboa.


imagem Architects Bordeaux

Já agora aproveito para dizer que não me parece que este tipo de solução, da imagem seguinte adiante alguma coisa. Não é genuíno, soa a falso. Se fôr para substituir, assuma-se o contemporâneo. A "imitar o antigo " não é necessário...

5 comentários:

  1. Concordo plenamente com o seu texto Sofia.
    Infelizmente a nossa sociedade está "formatada" para rejeitar o que é velho, ou melhor, antigo. O tratamento dos vãos dos edifícios é um dos exemplos. Raras (se não inexistentes) são as vezes em que a substituição por janelas de alumínio contribui para a melhoria estética de um edifício antigo, actuando apenas na melhoria dos aspectos que mencionou e somente aplicadas de uma forma correcta. Também eu assisti num conhecido programa de televisão a esta prática, que no caso em questão é recorrente.
    É de facto uma pena que não se valorize o trabalho e os saberes dos nossos antepassados, pois se perdesse-mos algum tempo a observá-lo atentamente iríamos aprender muitas coisas. Os edifícios antigos são autênticos manuais de construção, nada está ao acaso, por vezes nem mesmo alguns elementos decorativos. Vejamos o caso dos edifícios do século XIX, princípio do XX: os vãos têm aquelas dimensões porque era necessário entrar o máximo de luz e ar, as paredes que os ladeiam têm uma ligeira inclinação para reflectir a luz solar para o interior, entre outros exemplos.
    Note-se que muitas das construções do passado, mesmo as mais modestas, têm por vezes acabamentos mais nobres do que as dos tempos actuais. Actualmente recorre-se ao "imitar o/a...", enquanto que antigamente se não houvesse orçamento para madeira de carvalho, usava-se pinho, não havia esse tipo de fingimentos e isso faz toda a diferença.
    É lamentável que a nossa sociedade continue a negligenciar o seu património. A especulação imobiliária prolifera nas cidades e imediações. O urbanismo que se pratica actualmente é assustador, não existe um fio condutor, uma continuidade, nos anos 40, 50 e 60 ela ainda existia, porque será que a esquecemos?
    Enfim, sobre este assunto estaria aqui umas boas horas a escrever.
    Parabéns pela iniciativa de chamar a atenção para a necessidade de olhar com outros olhos o nosso património.

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  2. Meu deus.... cm é raro encontrar alguém que me entenda :)
    O meu sonho de casa é efectivamente uma casa de inicio de séc!
    Aquelas d epé direito alto, com o chão de madeira escura e aquelas janelas que se abrem de par em par.... e que têm portadas por dentro....
    Sonhar é tão bom :D

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