
excerto do tema Imagine de John Lennon
Depois do comentário da Catarina ao post anterior sobre a recente polémica no Pinterest que envolve os direitos de autor, pus-me a pensar. A forma como hoje em dia podemos reproduzir facilmente uma imagem ou um som está a deixar toda a gente um pouco confusa acerca do que é ou não um crime. Uma das minhas filhas estava deveras impressionada porque o criador do site que a maior parte dos adolescentes usava para "sacar" músicas para os seus leitores de MP3, foi condenado a uma pena de prisão exemplar e só sairá da prisão com 90 anos, por um crime que, segundo ela, seria aparentemente mais desculpável. Fiquei também a reflectir sobre isto. E o que eu concluí é que tudo que está a acontecer no mundo, crises financeiras, revolução tecnológica, internet, nos vai levar realmente a uma nova civilização em que nada do que era antes, vai continuar a ser. É IMPOSSÍVEL multar TODOS os estudantes que já fotocopiaram um livro na faculdade, ou TODOS os teen-agers que já pirataram uma música para ouvir nos phones ou TODOS os bloggers que já publicaram uma imagem sem ter uma autorização formal para isso. Por isso, tem-se optado por responsabilizar quem daí tira dividendos financeiros e compreendo que sejam julgadas as pessoas responsáveis pelos sites que promovem e lucram com a utilização de trabalhos protegidos por copywright. Ser julgadas não quer dizer pô-las na prisão para a vida, como um assassino qualquer. Há que ter bom senso.
No caso dos proprietários do Pinterest, ao empurrar a responsabilidade para os utilizadores põem-se inteligentemente a salvo, partindo do pressuposto que ninguém no seu juízo perfeito vai instaurar processos individuais aos milhares de utilizadores desta plataforma. Quero acreditar que não terá sido má fé, apenas um estratagema de advogados. Provavelmente nunca pensaram que houvesse alguém realmente a ler os Termos e Condições mas agora que a
polémica foi lançada, alguma solução sairá disto tudo, espero.
De qualquer forma, não gostava de imaginar uma sociedade em que as reproduções de imagens ou sons estivesse excessivamente criminalizada. Por princípio, acho que essa situação dá sempre origem a mercados paralelos ilegais, a um sub-mundo que me parece sempre muito pior e menos controlado. Como em relação a outros temas muito polémicos da nossa sociedade (nem pensar que eu vou dizer quais...) acho que a solução passa sempre pela promoção do sentido ético das pessoas. Na Idade média conseguir reproduzir vários exemplares da Biblia foi um feito histórico, hoje em dia, copiar é algo que fazemos sem pensar, com um clic e não há forma de impedir isso, mais vale aceitá-lo, ver o que nos pode trazer de bom e agir em conformidade, criar formas de adaptação às novas realidades.
Claro que, numa primeira reacção não gostei muito de encontrar uma fotografia que saiu da minha imaginação e da câmara do fotógrafo que disparou ao meu lado, num blog longínquo sem qualquer referência à sua autoria. Mas... se eu pensar outra vez talvez não tenha assim tanta importância. Ao fim e ao cabo, assim que lançamos as coisas ao mundo, nada nos pertence, nem filhos, nem livros, nem músicas, nem fotografias. E agora temos esta possibilidade maravilhosa de poder espalhar o nosso trabalho pelos quatro cantos do mundo e isso pode ser bonito, se preferirmos o valor da partilha ao do lucro. Depois de garantido que todos os artistas recebem um valor justo pelo seu trabalho de criação, chegará o dia em que os nossos egozinhos não vão ficar tão ofendidos porque alguém gostou do que nós fizemos e o viu ou ouviu e partilhou. You may say I m a dreamer...